Monday, November 21, 2005

Como ordenar as idéias

Existe um pequeno livro de autoria de Edivaldo Boaventura com boas sugestões de "Como ordenar as idéias" ( este é o título do livro) . Sugiro utilizar suas idéias quer seja na exposição ou no desenvolvimento de um projeto. A primeira qualidade do livro é ser pequeno e denso, a segunda é ser prático e objetivo.
O Prof. Edivaldo sugere que um plano é um itinerário, que tem, por tanto um ponto de partida e outro de chegada e um trajetória a ser cumprida, ( no caso de algumas teses muito compridas também) O segredo da boa apresentação ou desenvolvimento de um projeto é conceber e desenvolver este itinerário adequadamente.
O ponto de partida é a Introdução, o anuncio do tema. Deve-se fornecer a idéia geral do assunto e situá-lo na história, na teoria, no espaço e no tempo. O segredo é motivar o leitor para prender sua atenção para as etapas seguintes e fornecer as idéias diretrizes do projeto, ou seja apresentar o plano.
Em seguida vem o itinerário, ou seja, o corpo da exposição, que deve ser desenvolvida em partes: duas ou no máximo três. As partes devem ter títulos e subdivisões, se necessário. Devem ser divididas para facilitar o entendimento e desenvolvidas por oposição de idéias ou por progressão de uma delas. O que deve ser evitado é o plano banal, previsível que leva a repetição de idéias e apresenta obviedades.Deve-se nesta etapa buscar o equilibrio entre as partes e estabelecer as relações causais e ligações entre elas.
Finalmente o ponto de chegada, as conclusões. Neste momento deve-se apresentar o resumo marcante com os argumentos bem sintetizados e encadeados. Como sugere o autor: Marcar para plantar. Deve-se também alargar os horizontes sugerindo possibilidades de trabalhos futuros em novas frentes sobre a mesma questão.
Este é um extrato das propostas do livro mas a riqueza mesmo está na sua leitura.É uma publicação da Série Principios da Editora Ática.

Saturday, September 10, 2005

Escolhendo o alvo

Recentemente recebi um email de uma aluna de um outro curso de pós graduação me pedindo a sugestão de um tema de pesquisa. Ela dizia no texto que queria "um assunto da moda e de impacto para deixar a banca impressionada" Impressionado fiquei eu. É lógico que teria uma série de assuntos para sugerir que se bem trabalhados por um profissional de marketing atenderia este objetivo, dependendo da banca. Exemplos seriam rastreamento de produtos ( RFID em particular), logística reversa, logística do e-commerce, tercerização de serviços, apagão logístico, rastreamento veicular utilizando telefonia móvel, poderiamos enveredar também por tendências futuristicas, como tele transporte, e assim por diante.
É claro que não acho um bom caminho este tipo de escolha. Se você vai fazer uma pesquisa deve escolher algum assunto que de fato seja uma contribuição ao conhecimento da área, aos problemas do seu país e para você também. Os temas da midia de hoje foram objeto das pesquisas de ontem. Para monografias de cursos de graduação ou de pós lato sensu, acho que podem até servir, mas para trabalhos mais profundos, esqueça.
Você deve buscar dentre os assuntos de seu interesse algo que permita aprofundamento e contribuição efetiva. Por exemplo no caso das etiquetas RFID, o que podemos pesquisar no Brasil que seja uma contribuição efetiva do conhecimento logístico?Talvez as reais dificuldades de ser implementado aqui. Os problemas de nacionalização, de absorção de tecnologia, a real validade do uso desta tecnologia para a nossa realidade.... Há menos que estejamos trabalhando na área de informática de um laboratório americano. pouco poderemos contribuir no desenvolvimento efetivo desta tecnologia, devidamente preservada por patentes intenacionais.
O Prof. Harvey Walker da Ohio State University é contundente em relação a esta questão: "Há muitos problemas mas poucas pessoas tem condições de resolvê-los" Eu complemento: existe um problema importante que você tem capacidade de resolver, descubra-o.
Este professor sugere um conjunto de importantes regras a serem seguidas na escolha do tema e na definição de um problema a ser objeto de pesquisa científica:
"1- Escolher um problema situado dentro de um campo de seu interesse para aporveitar ao máximo sua capacidade pessoal e tirar o máximo de proveito do seu trabalho;
2- Escolher um problema que seja de sua competência como investigador tanto no que diz respeito ao conteúdo quanto ao método a ser utilizado;
3- Verificar se esse problema já foi ou não adequadamente estudado por outros pesquisadores e se foram devidademente registrados os seus estudos;
4- Certificar-se de que existe nas bibliotecas ( Eu complemento : e na internet) material adequado e disponível para o estudo;
5- Delimitar a área dentro da qual será desenvolvida a pesquisa, de modo a ter um trabalho incisivo e penetrante em vez de difuso e superficial;
6- Fazer um primeiro exercicio de definir ou formular o problema e enunciar claramente os objetivos do trabalho, muito embora terá que refazer esta atividade algumas vezes durante o desenvolvimento do projeto."
Quanto ao conteúdo do seu tema de pesquisa, se você já tiver algum escolhido, coloque aqui para discutirmos.

Saturday, September 03, 2005

Dicas do Douglas Tacla para um bom trabalho escrito de pesquisa ou corporativo

Estas são algumas dicas do meu colega Douglas Tacla para elaborar um bom trabalho escrito de pesquisa ou corporativo. O Douglas é Doutor pela Poli, professor da nossa pós graduação e diretor de Transportes da Exel. Por ele transitar bem tanto pela área acadêmica como pela prática vale muito a pena escutá-lo. Esteja certo que estas colocações foram testadas de fato:

"1-Objetivo
Deixe muito claro a que seu trabalho se propõe, ao terminar de ler o leitor tem que concordar com você, que você escreveu o que prometeu. O trabalho não pode ser uma pesquisa estatística, ou um levantamento de informações, por mais perfeito que você seja nestes tópicos. Ele deve ter uma proposta clara, direta e concisa. Se for uma análise diga que é uma análise, mas diga o que você pretende com a análise. Em duas frases (as duas primeiras) o leitor deverá saber o que vai encontrar. Deixe o suspense para o Hitchcock, você está fazendo uma pesquisa científica.
2-Introdução
Venda o seu peixe, mostre o cenário atual, e relacione-o com o objetivo. Convença o leitor a ler até o fim o que você escreveu. Aborde de novo o objetivo, agora com mais liberdade falando das ferramentas que você vai usar.
3-Revisão Bibliográfica
Sempre tem que ter. Ela valoriza o trabalho e mostra que você pesquisou que conhece o tema, mesmo que sucinta, mesmo que limitada a poucos autores. A literatura vai mostrar a relevância do tema: se bastante pesquisada a importância para o mundo acadêmico ou corporativo; se, é pouco pesquisada mais importante ainda, pois é “quase” inédito (na ausência total busque temas correlatos). Se o trabalho é mais corporativo do que acadêmico, busque trabalhar com bench-mark no lugar de literatura, o que fazem e como fazem os lideres, as empresas mais conceituadas e vitoriosas.
4-Metodologia – Desenvolvimento da Pesquisa
Nesta parte você vai desenvolver o trabalho, colocar a sua proposta, a sua pesquisa, seu modelo, enfim o coração do trabalho – NÃO confunda com aplicação a caso prático. Quanto mais genérico você for mais sua pesquisa contribuirá, quanto mais específico menor será o interesse.
5-Aplicação ao caso prático.
Pode ser real ou com números fictícios, mas tem de alcançar o planeta terra, tocar a realidade. As pessoas pensam relacionando conceitos a fatos. Se citar nomes não esqueça de pedir autorização. Esta etapa é coroação do trabalho, você vai provar que sua metodologia funciona.
6-Conclusões e Recomendações
Feche o assunto. Ligue os tópicos, realce a metodologia, enfatize o resultado e convença ao leitor que você cumpriu a promessa que fez no objetivo. Faça ele perceber que valeu o tempo que ele gastou com você.
7- Bibliografia
As citações ao longo do texto devem vir acompanhadas dos respectivos autores e ano de publicação e nesta parte do trabalho você detalha as fontes citadas e as consultadas.

Último toque: não maltrate a língua pátria"

Wednesday, July 13, 2005

O problema do arqueiro

Fazer uma pesquisa científica é semelhante, na minha opinião, a atirar uma flecha. Para ter sucesso, quais são os aspectos que um bom arqueiro deve se preocupar?
Em primeiro lugar, escolher um bom alvo, algo que valha a pena o esforço. No caso da pesquisa, o alvo é o tema que você irá abordar.Vale a pena discutir com outras pessoas e refletir bastante sobre a importância do assunto e a relevância dos possiveis resultados que serão obtidos. Nesta fase é muito importante o papel do orientador. Se você fosse pesquisar comigo, no caso de uma Iniciação Científica, eu definiria o tema, no caso do Mestrado, discutiríamos juntos algumas alternativas e no caso do Doutorado, proporia algumas reflexões sobre temas escolhidos por você desde que fossem de meu interesse. No pós doc esperaria que você me despertasse para algo novo.
Escolhido o alvo, vem a preparação do arqueiro. É muito importante que, quando atirar a flecha, você tenha as habilidades necessárias para fazê-lo com sucesso e que utilize para isso um arco adequado. No caso da pesquisa, corresponde a fase de preparação, estudo de conteúdos e técnicas pertinentes ao assunto. Corresponde ao período que você vai cursar algumas disciplinas, vai estudar alguns assuntos, vai fazer pesquisa bibliográfica, vai selecionar a metodoloigia e as técnicas para resolver o seu problema. Neste período o orientador funciona como um "personal traineer", talvez um "brain traineer", alem de incentivá-lo a vencer os desafios da preparação, deve ajudá-lo na escolha do que estudar e do que apreender.
Se já temos um alvo, um arco e estamos habilitados a lançar flechas, falta a parte visivel do processo: a flecha. Alguns imaginam que uma pesquisa científica se resume ao documento que a descreve, não enxergam que para atingir o alvo, a flecha é apenas um resultado de um processo mais amplo, muito mais amplo. A flecha é o momento da síntese de todo o esforço do arqueiro, e vai representar bem ou mal todo o processo desde a escolha do alvo até o sucesso em atingí-lo. Por isso sugiro que você seja muito cuidadoso na estruturação e redação do seu texto de pesquisa mas procure não ficar só focado na forma. Hoje é muito simples criar belos efeitos midiáticos, mas o que importa é o conteúdo, o que há de realmente relevante nas páginas que você vai escrever, que vai obrigar a alguns ler( pelo menos a banca) e que vai disponibilizar a outros interessados. Estes tempos precisam ser bem utilizados e recompensados, através da leitura agradável sobre algo importante e novo.
Finalmente, se a flecha for bem lançada por um arqueiro treinado utilizando um arco adequado só falta vienciarmos a sua trajetória até atingir o alvo. Este é o processo de pesquisa que será objeto de nossas outras conversas aqui.
Já decidiu? Venha, arrisque, vale a pena.

Monday, July 11, 2005

Ainda o primeiro passo

Fazer uma pesquisa é uma atividade lúdica, é transformar a ciencia em atividade artística. Quem bem coloca estas questões é Lucrécia Ferrara, na introdução do livro Como se faz uma tese, de Umberto Eco. Leitura que aconselho, principalmente a primeira metade, desconsiderando, é claro, a parte que sugere aos orientados tomarem cuidado para não serem explorados pelos orientadores. Lucrécia bem sintetiza o ganho para o pesquisador com o esforço de pesquisa. Ela cita três benefícios: a precisão do pensamento, a nuance da reflexão e a capacidade dialética. "A tese tem algo a ver com a invenção. Uma receita às avessas: a descoberta"
Eco, muito mais formal nestas questões, apresenta para a pesquisa científica a necessidade de ter o objeto de estudo muito bem definido, apresentar algo que ainda não foi dito, que seja útil aos demais e com elementos necessários para a sua verificação e contestação. Mas nesta linha a leitura mais instigante e agradável é o texto de Rubens Alves: Filosofia da ciência: introdução ao jogo e as suas regras, onde ele apresenta de forma simples e poética, o delicioso jogo de construção e descontrução da pesquisa científica.

Wednesday, July 06, 2005

O primeiro passo

Tomar a decisão de realizar uma pesquisa científica merece reflexão. Você vai passar no mínimo um ano e talvez 2,3 .... envolvido neste projeto, dedicando horas preciosas de sua vida. É certo que vai experimentar sensações maravilhosas, na minha opinião só comparáveis com o vinho e o amor. Mas também terá momentos terríveis, noites em claro e angustias solitárias e as vezes coletivas, compartilhadas com o orientador. Pense bem. Viver é fazer escolhas.
Na minha opinião, Pesquisar é um processo individual de auto conhecimento exercitado sobre um conteúdo específico e com técnicas bem definidas. Estão aí outras escolhas importantes: o que abordar e como abordar.
Mas vá em frente, o resultado é surpreendente. Como digo a meus orientados: você terá um grande chance de sair da sua fase ameba. Deixe-me explicar: as amebas não tem vontade própria, respondem a estímulos, são reativas a situação do meio. Mais ou menos assim: Qual são os meus problemas de hoje? Quantos vou resolver? Quantos sobraram de ontem? Vai ter redução de quadro na empresa?Tenho que levar minha filha ao dentista? Hoje vence a conta do cartão? .... e assim por diante .
Passar para uma atitude ativa, onde, de verdade, você decide o rumo das coisas, do que vai fazer, por que vai fazer, não é fácil e no nosso dia a dia cada vez mais as pessoas vão se esquecendo o quanto é gratificante, sair alguns momentos desta situação ameba. só que custa caro, muito caro pois tem que ser pago com duas coisas muito preciosas hoje: tempo e força de vontade.
Fiz esta escolha a mais de vinte anos e a cada dia que passo a renovo intensamente. Nestes anos convivi com muitos orientados e orientadores. Agradeço aos primeiros pelas dúvidas que abalaram as minhas certezas e aos segundos pelas certezas que resolveram algumas das minhas duvidas.
Atualmente, no Lalt estamos no quinto ano de um projeto de dez anos focando a logística no setor de serviços. Muitas pessoas já deram suas contribuições. Entram e saíram de suas fases amebas e crescemos juntos.As portas estarão sempre abertas para aqueles que desejarem vivenciar esta aventura juntos.
Reflita e decida.