Wednesday, March 22, 2006

Poeta também é pesquisador

Fernado Pessoa : Poesia completa de Alberto Caiero

pag 149 sem titulo ( Prof. Orlando : -Sugiro uma reflexão sobre os dogmas e as certezas)

Deito-me ao comprido na erva
e esqueço tudo quanto me ensinaram
o que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio
o que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa
o que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos
o que me apontaram nunca estava ali: estava ali só o que ali estava

pag 157 sem título ( Prof. Orlando: -Sugiro uma reflexão sobre a teoria e a prática)

Não basta abrir a janela
para ver os campos e o rio
Não é bastante não ser cego
para ver as árvores e as flores
É preciso também não ter filosofia nenhuma
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas
há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo mundo lá fora;
e um sonho do que se poderia ver se a janela abrisse
que nunca é o que se vê quando a janela abre

pag 169 Poemas inconjuntos (Prof. Orlando -Sobre a sabedoria de ser paciente na pesquisa)

Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua
Ninguém anda mais depressa de que as pernas que tem
Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento

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